Como mulheres, muitos dos problemas que somos levadas a enfrentar envolvem a nossa imagem. Desde a forma como cuidamos dos nossos cabelos, ao que vestimos e ao tamanho dessas mesmas roupas. Passamos de crianças a ser estereotipadas assim que entramos na adolescência. Aprendemos a celebrar certos momentos, como é caso da primeira menstruação, e a esconder certas partes de nós que são desencorajadas, para nos moldarmos a um ideal.

Uma das transformações que não se falam é quando tudo isso passa. Quando já não estamos na puberdade nem na adolescência e os nossos corpos voltam a mudar. Quando já temos muitos dos nossos marcos ultrapassados e somos incluídas no grupo dos adultos e passamos a ter idade para nos preocuparmos com estrias e celulite e os nossos corpos tomam formas e ganhamos peso. Quando as nossas coxas engrossam e as nossas barrigas deixam de ser lisas.

Este trabalho mostra essas modificações que passei nos últimos dois anos, que coincidiram com a pandemia, com um olhar de afirmação para com estas transformações, aceitando-as e abraçando-as. Algumas peças são minhas à anos e outras foram adquiridas já este ano. Umas feitas pelas minha avó ou passadas para mim pela minha mãe, outras compras de saldos.

O conforto que sinto em assumir este ganho de peso e o à vontade com que o partilho é uma diferença muito grande do que somos levados a ambicionar enquanto sociedade. A ridicularidade de haver um tipo de corpo a desejar e o facto de ser diferente a cada década que passa vem provar que o único caminho é a aceitação desta nossa casca que se modifica constantemente.

As peças incluídas nas imagens selecionadas não me servem no sentido literal, mas também coloquei de parte muitas outras que não me servem por memórias que abrigam.

Os nossos corpos são passageiros e também são as roupas com que os cobrimos.
9 provas com impressão a jato de tinta sobre papel FineArt, 15 x 10cm | Edições de 1 PA